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Foto do escritorKrishna Grandi

O que espero como mulher

Beijos e Bilhetes - Crônicas de uma Jovem Mulher



Às vezes me pego pensando: "que tipo de mulher quero ser", sem me dar conta das faces que já sou. Ainda que acredito poder melhorar em alguns aspectos, outros eu fico forçada a aceitar. Porque vai me caracterizar, ou me singularizar.


Essas singularidades de mulher, são as que mais me causam medo. Ultimamente tenho tido mais esse sentimento. A pandemia abalou as estruturas emocionais do mundo, não fui diferente. É como se eu pudesse escolher, sem escolha. Entre aquilo ou nada.


Essa semana me assustei com um possível segundo episódio de trombose. Acabei assustando as pessoas ao meu redor, que se preocupam comigo. E isso depois me causou culpa, porque não aconteceu. Tinha todos os sinais de que era, o médico concordou com a possibilidade, medicou para isso, e fiz a ecodoppler, que por fim, só revelou as sequelas da primeira trombose, que foi quase fatal.


Por um lado, fiquei aliviada. Havia chorado tudo o que podia só de pensar nessa possibilidade. De ver que era real, que a perna inchada e a dor na panturrilha passaram somente com essa medicação. É o meu medo, talvez um medo pro resto da vida.


Só que eu não quero viver com medo para sempre. Não posso morrer de medo. Ou aceitar esses fatos, e secretamente escrever despedidas. Odeio esse tipo de drama, mas sofri com a porcentagem de chance. De pensar que fosse súbito e certeiro. Que evoluísse para uma embolia, ou sei lá o que de pior posso esperar das minhas veias.


Não faço o estilo de viver a vida como se fosse acabar amanhã. Eu penso no dia seguinte, considero ele. Sei que ele vem, chega e vai para outro amanhecer. Mas eu preciso de um estilo de vida. Nem falo fitness, porque exercício de alto impacto não rola por aqui.


As decisões que eu esperava para num futuro decidir, vou ter que considerar agora. E, talvez, isso seja o que eu espero como mulher. A capacidade de decidir e assumir o medo, sem que ele me tome antes. Hoje eu cheguei do hospital, estou descansando e medicada. Consideravelmente feliz e extremamente aliviada.


E sobre o tipo de mulher que quero ser, um pouco mais corajosa. Para pelo menos não fugir dos diagnósticos. Sem falar que gostaria de ser uma mulher mais segura. Que não se importe tanto com as pernas varizentas. Minha sorte é ser nova ainda. Embora isso signifique dividir a espera do consultório com as avós dos meus amigos. E me surpreender por ter assunto com elas.


Essa sorte não dura pra sempre, mas vem acompanhada de uma ignorância de ainda não entender a gravidade da situação à longo prazo. Espero ter tempo de encontrar um plano de vida bom, que me ajude a contornar isso e que seja personalizado pra mim.


Para que eu não me sinta culpada de ser singular. E assuma como um estilo de vida que é meu. Afinal, que tipo de mulher eu seria se fosse como as outras? Dependendo "que outras", gostaria de ser um pouco delas. Mas a questão é que só tenho tempo mesmo para ser eu. Mesmo que seja um pouco triste, às vezes.



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