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Foto do escritorKrishna Grandi

O amor que encontrar

Dos tipos de amor que encontrei, um só me roubou um beijo. Embora ele alegue que fui eu a ladra. E tentamos descobrir até hoje o meliante dessa situação. Nem sempre foi assim, amor ao primeiro delito. Já tive um amor à primeira foto, à escrita, à banda, à vocal, ao cheiro e é óbvio que eu tive um amor à primeira vista. Mesmo tendo um grau de miopia considerável, olhei de cantinho e posso afirmar que o borrão foi interessante para que eu colocasse o óculos e desse uma segunda olhadela. Tirando o óculos em seguida.


Sabe, amor nem sempre dispara o coração. Às vezes, o amor cansa. O amor fica indo e vindo e batendo o pé na sala. O amor também troca de roupa. Vira paixão, carinho, se transveste de vento e vai embora. Era amor. Agora é pó. Amor sorri e como é bonito o sorriso do amor. Aí você abraça demais e o amor chora. Sufoca.


O amor ergue a panela e pergunta o que vamos comer hoje. Rodopia com uma música inventada na cabeça e depois tropeça e cai no chão. Como é tonto esse amor. Não viu o fio do carregador no chão? O amor é míope, quase cego. Precisa de toques e uma armação pra corrigir o grau que falta. Porque o amor não enxerga longe. É inseguro. Tem medo e precisa de uma mão. Ah, esse amor... Como é imperfeito esse amor!


O amor pousa o rosto no colo do peito e ouve o coração. Pergunta se mora ali. Sim, amor, o coração foi feito para ser moradia do amor. Mas com tantos quartos? Sim, amor. Tem outros amores que precisam de espaço. Mas o seu, vem com uma suíte. É de longo prazo, sabe. Confortável. Mas e os outros? Que outros? Não há só eu? Não amor. Tem outras pessoas. Outros amores? Sim, outros amores. Você não é o único.


O amor quer exclusividade. Por isso, o amor tem ciúmes. Vira pro canto na cama e não entende. Pega meu celular no meio da noite e descobre um número suspeito. Mas como? Quando foi que saiu para trair? As contas não batem, os horários não fecham e o amor não dorme. O amor tem receio de perguntar. Também não pesquisa no Google para saber o número. O amor sofre as dúvidas da incerteza. Aí, o amor fica frio. Murcha, não sorri mais, nem quer mais café de manhã. Amor não come, não estuda e não procura mais. Vira um canto da boca erguido pra cima fingindo alegria.


É hora de confrontar o amor. Lembra quando encalhamos naquela rua perto da faculdade e precisei de um guincho para pegar a moto? Então... O nome pode ser feio, não muito apropriado... Mas é uma oficina de motos. Você poderia ter pesquisado. Estava no Google. Amor chora. Como é bobo esse amor. Agora a conta fecha. Poxa, amor, quanta confusão você criou. Pelo menos, agora o amor está leve.


O amor prepara uma surpresa. Está contente, feliz e cheio de energia. Amor entende que existe privacidade. Divide o tempo. Ah, esse amor... Tão levado, traiçoeiro e atrapalhado. Um dia o amor aparece com uma escova de dentes e um cobertor na mão. Arrastando pela casa, anuncia: não vou mais embora. Que importuno esse amor. De braços aberto o amor encontra uma moradia. Dessa vez, sem afobação. O abraço enlaça e protege. Ah, esse amor... Como eu amo o amor!

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